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“Velha Freguesia de saloios, cultivadores dedicados da terra, e de lavadeiras concorrentes das de Caneças, lugar de veraneio delicioso e de convívio ameno entre gente rica que para estas bandas tinha suas quintas e palácios, Benfica foi um dos mais deliciosos e poéticos lugares do Termo de Lisboa. Situada em lugar ameno, vindo desde um pouco para cá de Sete Rios, estendendo-se pela Estrada de Benfica que lhe servia de espinha dorsal, corria sempre por entre quintas e casas de campo, mais ou menos ricas, até à igreja paroquial.”

In Benfica, através dos tempos, Padre Álvaro Proença

As várias lendas sobre a origem do vocábulo Benfica têm em comum a utilização da expressão “bem fica”, à qual não foi alheia a existência de um microclima ameno, com abundância de água e arvoredo, fatores convidativos e propícios à fixação das mais variadas gentes, desde tempos pré-históricos.

São conhecidas estações arqueológicas dos períodos Paleolítico, Neolítico e Calcolítico, cujo espólio está hoje disperso por vários museus.

Muitos estudiosos defendem que a serra de Monsanto ganhou este epiteto por ser considerado um monte sagrado (mons sacer ou mons sanctus), onde se prestava culto a divindades, ainda no período pré-romano.

O tempo passou, sem grande informação, estando a presença muçulmana documentada não só através da toponímia, mas também através das características saloias que Benfica manteve até ao século XVIII-XIX.

A mais antiga referência documental onde Benfica surge citada enquanto lugar, data de 1263, quando D. Vivaz Liger fez doação ao Cabido da Sé de Lisboa de uma casa no Lugar de Benfica.

A data precisa da criação da freguesia é desconhecida. A referência mais antiga, a Santa Maria de Benfica consta do testamento de D. Maria de Aboím, datado de 1337. Depois, só voltamos a ter notícias em 1390 e 1392, já sob invocação de Nossa Senhora do Amparo. No que respeita à igreja paroquial inicial, sabe-se que era em estilo Gótico e que existiu até meados do século XVIII, altura em que foi destruída em sequência da construção da atual.

No século XV, enquanto paróquia, Benfica conhece a promoção a sede de julgado com dois juízes privativos e regista a existência de três Irmandades, que desempenharam um papel de relevo na vida religiosa da população: Nossa Senhora do Amparo, Santo António e São Sebastião.

A freguesia foi crescendo, conhecendo um aumento demográfico constante, mais intenso a partir de 1730, devido ao fluxo populacional provocado pelos trabalhos de construção do Aqueduto das Águas Livres.

Pelos Livros de Assentos da Irmandade do Santíssimo Sacramento, ficamos a conhecer as ocupações dos paroquianos de Benfica, à época: são referenciados alfaiates, boticários, canteiros, carpinteiros, cirurgiões. Cabouqueiros, marchantes, lavradores, moleiros, pedreiros, sapateiros, sangradores, sacristãos, taberneiros, tanoeiros, proprietários, homens de negócio e diversos nobres.

Espelho deste crescimento demográfico, a necessidade de construção de uma nova igreja paroquial, maior e mais moderna, desenhada por João Frederico Ludovice, arquiteto do Convento de Mafra e freguês, proprietário da Quinta da Alfarrobeira.

O terramoto de 1755, veio impulsionar exponencialmente o aumento da população de Benfica, tendo muitos dos habitantes do centro de Lisboa, migrado para os arrabaldes, onde podiam encontrar ares mais saudáveis e onde sentiam maior segurança.

A partir deste momento, e ao longo do século XIX, a freguesia saloia, de carácter rural, assiste ao veraneio de novas e abastadas gentes que, seduzidas pela beleza da paisagem, instalam-se em quintas. Os transportes públicos chegam à freguesia, a paróquia divide-se em duas, a cidade avança e, em 1885, o Termo de Lisboa é extinto e Benfica deixa de pertencer ao Concelho de Belém, passando a integrar o território da capital.

A reorganização administrativa em 1959, determina novos limites para a freguesia e divide o território em dois: nasce a Freguesia de Benfica e a de São Domingos de Benfica.

A partir da segunda metade do século XX, a cidade continua a expandir-se, dando origem a um novo ciclo urbanístico que alterou a fisionomia da freguesia, fazendo desaparecer o perfil rural que sempre a definiu. Dos 17 843 habitantes da década de cinquenta do século XX, passa-se para mais de 50 000, em 1990. Atualmente a Freguesia de Benfica conta com uma área de cerca de 8,03 km2, incluindo dois terços do Parque Florestal de Monsanto e com 35 367 habitantes (de acordo com os dados do Censos 2021).